Projeto investiga e monitora casos de micose endêmica

Agência UEL - José de Arimathéia

testes realizados no projeto demoram normalmente dois dias, e consistem em detectar o DNA do fungo pela análise dos anticorpos, e depois detecção de DNA


Equipe multiprofissional realiza exames diagnósticos e acompanha casos, tratados no HU/EAHU, de micose causada por fungos presentes no solo

A Paracoccidiodomicose (PCM) é uma micose causada pelos fungos Paracoccidiodes brasiliensis e pela nova espécie Paracoccidiodes Lutzii. O nome deste homenageia o médico e cientista carioca Adolpho Lutz (1855-1940), que descobriu o fungo em 1908. Lutz é considerado o pai da Medicina Tropical e da Zoologia Médica no Brasil, tendo sido pioneiro em Epidemiologia e na pesquisa de doenças infecciosas.

Estes fungos são encontrados em toda a América Latina. O fungo entra no organismo pelo contato e manuseio do solo e costuma afetar os pulmões, quando inalado. A maioria dos casos de PCM é da forma crônica ou adulta (74 a 96%), com preponderância de homens entre 30 e 60 anos. A outra forma rara (5 a 25%), e grave, a forma aguda e juvenil, ocorre em crianças e jovens de ambos os sexos até os 30 anos.

O grande problema está no diagnóstico adequado desta micose. É o que explica a professora Eiko Nakagawa Itano (Departamento de Ciências Patológicas), coordenadora do projeto de extensão "Diagnóstico laboratorial e monitoramento de tratamento da Paracoccidiodomicose na região norte, oeste e centro-sul do Paraná". A sintomatologia da micose é ampla, ou seja, fácil de confundir com outra doença, por exemplo em sua forma pulmonar. "O fungo nunca é logo cogitado. É uma das últimas possibilidades a serem investigadas", diz a professora.

De fato, os sintomas físicos mais conhecidos desta micose nos pulmões são tosse e falta de ar, o que a torna muito parecida com pneumonia, tuberculose ou neoplasia (tumor). Outro agravante é que, depois de contraído o fungo, a doença pode demorar décadas para manifestar. Ou nunca. "Soube de um caso na Itália em que a doença se manifestou 60 anos depois", conta a professora. Como se pode afirmar que o fungo não existe na Itália, foi possível saber quando ocorreu o contato com ele. Por isso, o perfil do doente são pessoas acima de 30 anos de idade, predominantemente do sexo masculino. O (hormônio) estrogênio da mulher a protege, por isso os casos no sexo feminino são maiores em mulheres já na menopausa. Da mesma forma, pessoas imunodeprimidas podem manifestar a doença mais cedo e mais forte.

Até aqui o cachorro se revela um grande amigo do homem, pois o animal pode contrair o fungo e acusar a presença deste na área, à semelhança do que ocorre com os macacos e a febre amarela. Ou seja, cachorros são "sentinelas" da doença, mas - frise-se bem - não a transmitem aos humanos.

Assim, toda vez que o Hospital Universitário ou o Ambulatório de Especialidades do HU, que fica próximo do Laboratório de Imunologia Aplicada (onde funciona o projeto), suspeitam de que um paciente esteja com a PCM, o projeto realiza exames laboratoriais específicos de detecção da doença. As coletas são feitas sempre nas últimas quintas-feiras de cada mês, tanto para casos novos (suspeitos) quanto acompanhamento de casos já diagnosticados. Em janeiro deste ano, apareceram dois casos novos (confirmados), mas é atípico, segundo a coordenadora do projeto. É o aspecto extensionista mais forte do projeto.  

De acordo com a professora Eiko Nakagawa Itano (Departamento de Ciências Patológicas), é preciso ter exames melhores, cada vez mais detalhados e mais precisos


Os testes realizados no projeto demoram normalmente dois dias, e consistem em detectar o DNA do fungo pela análise dos anticorpos, e depois detecção de DNA. Por outro lado, há um forte acento de pesquisa. A equipe do projeto, composta por professores e estudantes pesquisadores de várias áreas, realiza exames para checagem do nível de anticorpos, utilizando duas metodologias e, diante de casos mais complicados, faz exames de PCR (para diagnosticar infecções) e dos níveis de antígenos (substância que provoca a formação de anticorpos). "Estamos estudando as diferenças entre os agentes da doença. Há pouca pesquisa neste sentido", comenta a professora Eiko. Como exemplo do avanço das pesquisas, ela fala de registros do P. Lutzii onde nunca havia sido encontrado, através da detecção dos anticorpos específicos. E cita uma pesquisa de Doutorado que estudou quatro casos de doença por este fungo detectados em Guarapuava, em pessoas que nunca saíram na cidade.

DESAFIOS

Além dos sintomas serem iguais aos de outras doenças pulmonares mais comuns, o diagnóstico tardio é, segundo Eiko Itano, um dos principais desafios do combate à doença. Pode levar meses: "O paciente faz uma maratona até chegar ao diagnóstico correto", desabafa a professora.

O tratamento, normalmente medicamentoso, demora de seis meses a três anos e, quanto mais demorar para chegar ao diagnóstico correto, mais longo ele será. Além disso, a micose pode se espalhar para qualquer órgão do corpo, comprometendo o funcionamento de todos eles, e levar a sequelas graves, permanentes, incapacitação para o trabalho, e morte. De fato, é a micose que causa maior número de óbitos e não raro está associada à AIDS.

Porém, pelo fato de que a micose acomete, principalmente, pacientes humildes, poucas empresas investem pesado em kits diagnósticos. Por consequência, também não há, na opinião da professora Eiko, políticas públicas adequadas. Um exemplo: como não se trata de uma doença objeto de vigilância epidemiológica nacional, sua notificação não é compulsória. Resultado: expressiva subnotificação, ou seja, deve haver muito mais casos do que os registrados.

Até os testes precisam melhorar. De acordo com a professora, é preciso ter exames melhores, cada vez mais detalhados e mais precisos. Na verdade, raros são os laboratórios clínicos especializados nos exames mais adequados. Segundo a professora, o Laboratório Central do Estado do Paraná (LACEN) envia para a Fundação Oswaldo Cruz. O resultado é reagente ou não apenas.

Esta matéria foi publicada no Jornal Notícia nº 1.389. Confira a edição completa: 

http://www.uel.br/com/portal/pages/jornal-noticia-uel.php

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