Receita para uma alimentação saudável e segura
Agência UEL - José de Arimathéia
Parte da equipe do projeto num dos laboratórios do Centro de Ciências Biológicas onde desenvolvem suas atividades |
Projeto de Extensão oferece
cursos de segurança alimentar a merendeiras de escolas públicas de 12
municípios da região e valoriza profissão
Quem estudou em escola pública provavelmente tem
uma relação afetiva com a merenda escolar, e principalmente com quem a
preparava: as merendeiras. Estas dedicadas profissionais estão no
imaginário e têm sido ainda mais valorizadas no projeto de extensão
"Segurança alimentar: promoção da alimentação saudável na escola",
coordenado pela professora Renata Katsuko Takayama Kobayashi
(Departamento de Microbiologia).
Sucessor de projetos anteriores já encerrados
("Iniciação à Microbiologia para o ensino médio" e "Reconhecendo a
Microbiologia no nosso dia a dia"), que atuaram por seis anos em escolas
estaduais, inclusive com recursos do Ministério da Educação e Fundação
Araucária, este atual oferece cursos de segurança alimentar a
merendeiras de 12 municípios da região de Londrina, incluindo escolas
indígenas.
As merendeiras vêm até a Universidade e a
formação é dada nos Laboratórios do Departamento de Microbiologia. Cada
turma tem 20 alunos e, na UEL, elas fazem um curso de 10 horas. São 2
dias de conteúdos teóricos e práticos com muita dinâmica e exercícios
totalmente associados às atividades do dia a dia, como o manuseio de
alimentos. O segundo dia é mais dedicado à Microbiologia dos alimentos, e
as participantes conhecem as principais bactérias que podem ser
encontradas neles ou nos ambientes de trabalho.
Logo no primeiro dia, a equipe do projeto
demonstra a importância da lavagem das mãos por meio da pesquisa da
microbiota (microorganismos) das mãos não lavadas, lavadas apenas com
sabão neutro e após a utilização do álcool 70%. Em outro experimento, a
equipe apresenta três bactérias conhecidas às alunas - duas encontradas
nos seres humanos e um bacilo (capaz de produzir esporos) presente em
cereais. Aí demonstram a resistência delas ao processo de fervura,
especialmente a terceira, que sobrevive a até mais que 15 minutos na
fervura. Também é feita uma coleta de material das alunas e do ambiente,
como da sola de sapato, embaixo das unhas, cabelos, óculos, alianças,
nariz e boca (onde mais crescem bactérias).
No segundo dia, elas veem as colônias bacterianas
crescidas nos meios de cultura e as bactérias coradas para visualização
com auxílio do microscópio óptico e normalmente se surpreendem. Ficam
conhecendo agentes patogênicnos (que causam doenças), como a salmonela,
fungos produtores de toxinas e o Campylobacter sp, um conhecido patógeno
presente na carne de frango. Os patógenos são muitos e podem provocar
desde uma diarreia leve até a Síndrome de Guillain-Barré (que leva à
paralisia), dependendo do agente e de um conjunto de fatores. O curso
fecha com informações importantes sobre as propriedades nutricionais dos
alimentos, com orientações da professora Clísia Carreira, colaboradora
do projeto.
O projeto já ofereceu nove cursos, atendendo
quase 200 merendeiras e mais um deve ocorrer até março, quando o projeto
encerra. O projeto também oferece cursos de 40 horas para alunos do
curso Técnico em Nutrição e Dietética e Técnico em Alimentos, do Colégio
Polivalente.
Alunos de Mestrado e Doutorado (dos Programas de
Pós-graduação em Microbiologia e Tecnologia de Alimentos) ministram os
cursos.Os de graduação (Biologia, Biomedicina, Veterinária e Farmácia)
preparam material e monitoram os cursos. No total são 31 alunos, dos
quais 23 da pós-graduação.
Além dos alunos e professores das áreas
biológicas, agrárias e de Saúde, o projeto conta com alunos dos cursos
de Design Gráfico (Amanda M. Tokano) e de Artes Visuais (André H.
Kikumoto). Eles foram responsáveis pela criação do logo e da página do Facebook,
e ficaram responsáveis também pela edição das imagens e postagens. O
projeto está preparando uma cartilha dirigida às merendeiras com
conteúdos para serem eventualmente consultados e fixados, e um folder
sobre segurança de alimentos.
AVALIAÇÃO
Para os professores e alunos do projeto,
participar dele é muito gratificante e enriquecedor. Para a aluna Bruna
Carolina Gonçalves, de Biomedicina, a ênfase dos cursos em docência
ajuda na formação. "Ministrar curso a um público diferente, não
universitário, é difícil. Temos que mudar a linguagem mas manter a
qualidade", comenta. Para Natália Belebecha Terezo, também de
Biomedicina, o projeto traz vários aprendizados, e reconhece que
aprendeu muito com os alunos de pós-graduação. E completa: "É incrível
levar os conhecimentos para fora da UEL". Ao mesmo tempo, o curso
oferecido pelo projeto dá voz às merendeiras, que encontram um espaço no
qual podem falar de suas dificuldades, desafios e experiências do dia a
dia. Está aí a via de mão dupla dos saberes.
O professor Gerson Nakazato (Departamento de
Microbiologia), também participante do projeto, avalia positivamente o
projeto, que enriquece a formação dos alunos e traz grande satisfação
aos participantes. Tanto ele quanto a professora Renata desenvolvem
projetos de pesquisa paralelos às ações extensionistas. Ela lembra
ainda que os maiores restaurantes do Brasil (em quantidade de alimentos
servidos) estão nas escolas, o que demonstra a importância da segurança
alimentar nestes ambientes.
Quem também avalia muito positivamente o projeto é
Ingrid Lioto, do Núcleo Regional de Educação de Londrina, órgão
responsável pelas escolas estaduais. Para ela, os resultados dos cursos
foram excelentes. "Pena que foi pouco tempo", afirma. A prática foi,
para ela, o ponto alto da formação, destacando a oportunidade de
aprender, os conhecimentos de higiene e o contato com equipamentos
(microscópio, lâminas e outros), o que para muitas foi novidade. "As
merendeiras e auxiliares gostaram muito e adquiriram um conhecimento que
levam para a vida toda. Eu espero que esta parceria continue",
finaliza.
Esta matéria foi publicada no Jornal Notícia nº 1.389. Confira a edição completa:
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