Conhecer para respeitar

Projeto que resultou em livro, em escola de Londrina, mudou a percepção dos adolescentes em relação à velhice

por Silvana Leão - da Folha de Londrina

O lançamento de um livro, na tarde de hoje, no Colégio Padre Wistremundo Roberto Peres Garcia, na Zona Norte de Londrina, será um marco para os adolescentes que participaram de sua produção. A obra, chamada ''Histórias de Vida: integrando jovens e idosos'', é resultado das atividades desenvolvidas na escola pelo Grupo de Estudo sobre Envelhecimento (Gesen), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e mudou a visão sobre o envelhecimento de seres humanos que se preparam para sair da condição de quem é cuidado e assumir o papel de cuidadores.

A publicação nasceu das ações do projeto de extensão Atenção Integral e Interdisciplinar a Idosos na Comunidade (Aenic), coordenado pelas professoras Mara Solange Gomes Dellaroza, do curso de Enfermagem, e Sandra Perdigão Domiciniano, do curso de Serviço Social. No colégio, foram utilizadas diferentes estratégias para provocar a reflexão sobre o envelhecimento populacional e suas repercussões pessoais e sociais. Uma das estratégias foi a promoção de encontros quinzenais, entre coordenadores, alunos de 6 série e idosos (avós, bisavós ou mesmo vizinhos) para o registro de seus relatos, que agora fazem parte do livro.

''Nos reuníamos à noite, aqui na escola. Muitas vezes chorávamos juntos, diante de histórias emocionantes. Foram dois anos de muito trabalho, mas o resultado foi gratificante'', afirma o professor de Língua Portuguesa Odair Galvão, que orientou e organizou a elaboração das histórias. Ele lembra que a ideia do livro nasceu durante o projeto, diante da riqueza dos relatos. Hoje, além da publicação, os educadores comemoram a mudança de comportamento dos adolescentes. ''Muitos não respeitavam os avós, chegavam a menosprezá-los. Depois desta experiência, a relação entre eles mudou'', ressalta Galvão.

O livro traz histórias reais, cheias de lutas, sofrimentos e vitórias. Desenhos também feitos pelos alunos, retratando pessoas e objetos antigos, ilustram a obra. Os cinco primeiros capítulos foram elaborados pelos docentes da universidade e buscam apresentar ao leitor algumas nuances do envelhecimento e da vida dos idosos. ''Se a criança tem conhecimento sobre o que é envelhecer, dará mais importância a um estilo de vida saudável e passará a enxergar o idoso não como um peso, mas como alguém que detém cultura e experiência de vida'', observa a professora Sandra Domiciniano.

''Antes eu não ficava muito com a minha vó. Hoje eu percebo que ela é legal'', diz Giovana de Araújo Pradao, de 13 anos. Mais do que descobrir uma boa companhia, porém, a adolescente aprendeu a respeitar a mãe de sua mãe, de 67 anos. ''Antes eu tinha que respeitá-la por obrigação. Hoje faço isso porque entendo suas limitações.''

Amanda Paulina Nunes da Silva, de 14 anos, descobriu que por trás da expressão de serenidade da avó, de 72 anos, há uma história de vida cheia de privações. ''Ela nunca deixou transparecer todas as dificuldades que passou. Agora que conheço um pouco do seu passado a respeito mais'', revela a garota.

A avó, por sua vez, também diz ter gostado da experiência: ''Eu nunca tinha tido oportunidade de contar as histórias do meu passado para os netos. Acho importante eles saberem que a vida da gente não foi fácil como a deles. Não fosse esse convite feito pela escola, eles nunca saberiam'', afirma a avó de Amanda, Sebastiana Cândido dos Anjos, uma mineira que passou fome na infância e nunca teve tempo para brincadeiras.

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