Como foi o Projeto Rondon para os alunos da equipe da UEL

por Lais Taine


No dia 19 de janeiro, oito alunos e duas Professoras da UEL embarcaram para o Projeto Rondon, Operação Babaçu, com destino à Buriticupu, no Maranhão. A intenção era buscar soluções para o desenvolvimento sustentável da comunidade e ampliar o bem estar da população por meio da participação voluntária dos estudantes.


Foram 17 dias de trabalho somados com 4 de viagem. A equipe saiu de Londrina em direção à Curitiba, passando por São Paulo e Rio de Janeiro, onde encontraram a equipe da Universidade Federal de Viçosa (UFV), parceiros de Operação.

Em São Luís, foram recebidos pelos militares e puderam assistir palestras sobre os trabalhos a serem realizados na Operação e participaram de atividades culturais da região. Os rondonistas também assistiram a demonstração dos soldados aos seus supervisores, com a presença do vice-almirante e coordenador geral do Projeto Rondon, no 24°Batalhão Barão de Caxias, onde ficaram instalados durante dois dias.

Após a recepção, o trabalho. De São Luís para Imperatriz, pausa para um breve café da manhã. Quatro equipes seguiram viagem no mesmo ônibus, duas delas, Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal de Alfenas(Unifal), ficaram em Açailândia. UEL e UFV continuaram o caminho até Buriticupu.

Ao chegar na cidade, os alunos já puderam notar as precariedades da região: “A cidade praticamente não tinha asfalto de tanto buraco, o esgoto a céu aberto e as carnes penduradas pra vender, sem refrigeração, foram as coisas que mais me chamaram atenção”, conta o estudante de Medicina Veterinária, José Carlos Ribeiro Junior, já observando otrabalho que teriam por lá.

Chegando na escola em que ficaram hospedados, a equipe se dividiu. Uma metade ficou organizando o alojamento e a outra divulgando o trabalho que seria feito durante os dias de Projeto Rondon. “Neste dia o pessoal foi distribuir panfleto e conversar com a comunidade, eu fui até a rádio local como outra alternativa de divulgação, e depois a gente descobriu que a maioria não tinha rádio em casa”, explica o estudante de Comunicação Social – Jornalismo, Guilherme Santana.

No dia seguinte, a equipe foi conversar com os Secretários do Município. Nessa visita puderam perceber as reais necessidades do local e o que poderia ser feito pela comunidade. Como o destino inicial da equipe seria Cidelândia, a viagem precursora foi perdida, por isso a conversa com os Secretários foi de grande ajuda para os rondonistas, algumas oficinas só foram organizadas a partir dessa reunião. “Eu mesma fui preparada para trabalhar com coleta seletiva, mas chegando lá eu descobri que eles não tinham nem a coleta normal, como eu ia pedir pra fazer a separação do lixo?”, Rosalba Adriane da Rosa, estudante de Geografia, sobre as mudanças de planos.

Nos próximos dias, formaram-se grupos que se deslocaram em cada região para as oficinas. Alguns estudantes ficaram na maior parte do tempo em áreas rurais e outros na área urbana. Algumas palestras tiveram grande interesse da população, passando do número de público esperado.

Além do trabalho com o lixo, Rosalba deu oficinas de padaria artesanal que aprendeu em um curso chamado “Escola da Família”, em junção do Governo do Estado de São Paulo com o Instituto Ayrton Senna e UNESCO, nessa oficina a estudante ensinava tipos de receitas com melhoria na alimentação com agregação de nutrientes, a intenção era a geração de renda para as famílias. A estudante precisou adaptar as receitas com os tipos de tempero da região para que pudessem ser feitos pela comunidade de forma fácil e barata.

Patrícia Andrade Garcia, do curso de Serviço Social, trabalhou em conjunto com uma alunade Direito da UFV para as palestras sobre Direitos Humanos. “Eu tinha preparado outras oficinas ligadas à gestão pública e projetos para captação de recursos para o Município, mas a demanda estava voltada para Direitos Humanos, principalmente sobre aviolência doméstica contra a mulher”, conta.

Nos assentamentos da área rural, as palestras foram desde os temas sobre doenças de origem animal e prevenção, boas práticas de ordenha e cuidados com o leite, feitas pelo aluno José Carlos, até as oficinas de educação ambiental com as crianças, com a produção de brinquedos feitos com materiais reciclados, organizadas pela aluna Maria Natalina Almeida, do curso de Geografia da UEL.

Lívia Maria Tavares Fontana, de Engenharia Civil e Bruna Mara Silva Secco, de Ciências Biológicas, também passaram pela área urbana e rural. Lívia falou sobre fossas sépticas em um formato alternativo e barato feita com tambor de 280 litros, falou sobre desidratador solar, aquecedor solar construído com material reciclável e iluminação com garrafas PET.

Bruna surpreendeu a comunidade ao mostrar a água contaminada encontrada praticamente em todas as regiões de coleta para análise. “A gente sentiu a necessidade de ensinar como tratar essa água em casa, mesmo que seja com água sanitária que é uma medida fácil, simples e barata. Eles precisavam de informação e ter a consciência dos riscos que corriam”.

O aluno de Agronomia, Vinádio Lucas Bega, passou pelos assentamentos falando sobre o meio ambiente, conservação de solo e compostagem, hortas, pragas de pastagem e formas alternativas de controlá-las.

A equipe pôde visitar o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), onde apresentou oficinas aos estudantes de vários cursos do Instituto. “A gente imaginou que eles, estudantes, poderiam dar continuidade ao trabalho em Buriticupu. Alguns deles mantêm contato comigo, por e-mail, pedindo material, apresentação, conversando sobre os assuntos das oficinas... E isso é legal!”, conta Vinádio, animado com o resultado.

Fora o contato profissional, o Projeto Rondon permitiu a vivência em uma região de cultura diferente e com um baixo índice de desenvolvimento. “Realmente existe falta de água, esgoto a céu aberto numa cidade que não é pequena, são 60 mil habitantes. A impressão que dá é que eu conheci o Brasil, a realidade do Brasil, e aprendi a diferença que uma pessoa pode fazer, que eu posso fazer, em uma comunidade que necessitade ajuda”, fala, orgulhoso do trabalho, o estudante José Carlos.

Bruna acrescenta: “Acho que a minha visão sobre a população, a cultura e o lugar mudou muito. Ver isso na TV, na internet, é uma coisa, mas vivenciar a realidade, poder estar lá, compreender as necessidades, a cultura, é bem diferente. Agora eu posso falar disso, emitir opinião.”

Todos voltaram com a sensação de trabalho cumprido e acreditam que os poucos dias de trabalho podem se multiplicar em muitos de desenvolvimento. O trabalho e conhecimento entregues retornaram como aprendizado para a vida, como a aluna Patrícia Andrade explica: “Eu fui e eu tenho certeza que mais absorvi, mais aprendi, do que levei. Acredito que o nosso trabalho tenha servido como uma injeção de ânimo para que a comunidade continue com aquilo que aprendeu”.




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