Caminho para a universidade está na extensão
Sociólogo português Boaventura de Sousa Santos aponta interação
com a sociedade como alternativa para o futuro
Fonte: UnB l Nair Rabelo l 06/11/2017 l Fotos: Secom UnB
Grande público lotou o anfiteatro 9 do ICC para ouvir Boaventura de
Sousa Santos.
Foto: Beto Monteiro
Em um anfiteatro lotado, estudantes, docentes e técnicos
administrativos da Universidade de Brasília ouviram, na manhã desta
segunda-feira (6), o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos
traçar um diagnóstico da atual situação vivida pelo ensino superior
público no Brasil e apontar saídas para a falta de amparo estatal
sofrido pelas instituições.
“Para sobreviver, a universidade precisa fazer alianças", definiu o
docente. "A instituição perdeu a aliança com as elites, mas ainda não
conseguiu firmar laços com as classes populares, que ainda a veem com
desconfiança. Para isso, decanatos de extensão são essenciais,
integrando a população à academia", considerou. Segundo o sociólogo, a
universidade do futuro precisa ser atuante, ter responsabilidade social e
firmar acordos internacionais. Ele destacou ainda a necessidade de
manter-se otimista. “Se não houver esperança, não há alternativa.”
O discurso foi parte da conferência Crise Global e consequências para Educação e Universidades Públicas: a defesa da Universidade e da Educação como justiça social, organizada pelo Decanato de Extensão (DEX) e pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB. O rapper brasiliense GOG, que durante a Semana Universitária já havia ressaltado a importância da sintonia entre universidade e sociedade, participou do encontro.
A sociedade na academia: rapper GOG se apresentou antes da palestra de
Boaventura de Sousa Santos. Foto: Beto Monteiro
Boaventura de Sousa Santos. Foto: Beto Monteiro
A reitora Márcia Abrahão, o vice-reitor Enrique Huelva, as decanas do
DEX, Olgamir Amancia, do DPO, Denise Imbroisi, do DPI, Maria Emília
Walter, e o ex-reitor José Geraldo de Sousa estiveram presentes. A
representante do DCE, Scarlett Rocha, e o professor do DEX Richard
Santos compuseram a mesa. A ex-ministra da Igualdade Racial Nilma Lino
Gomes, que foi anunciada como palestrante, não pôde comparecer.
DIVISOR DE ÁGUAS – Boaventura de Sousa Santos
entende que a universidade, de modo geral, atravessa um momento de
incerteza. Segundo o sociólogo, este estágio representa oportunidade de
ampliar o acesso ao ensino e de "descolonizar o currículo", ou seja,
distanciar a universidade de sua origem elitista. “A instituição pode se
tornar democrática, universalizada, ou um negócio”, alertou.
Santos advoga a favor da pluralidade de autores e pensamentos, de
forma a incluir saberes para além do que é tradicionalmente estudado na
academia. Na avaliação dele, o conteúdo atual é, em grande parte,
produzido por autores homens, brancos e europeus – muitos deles já
mortos. "No mundo, as universidades públicas foram criadas pela elite
para formar um determinado modelo de país", enunciou. "Destes ensinos
elitistas e excludentes, advêm pensamentos que reforçam o capitalismo e o
patriarcado, resultando na perpetuação de violências, como racismo,
sexismo e feminicídio", prosseguiu.
O palestrante observou ainda que, com o correr dos anos, a
universidade tomou para si a função de formar mão de obra qualificada.
Assim, a ideia da construção de país passou a perder relevância. “Não há
mais interesse na formação de elites nacionais, mas globais, de forma a
atender aos interesses do sistema econômico. Dessa forma, as
universidades públicas deixam de ser interesse do projeto nacional”,
disse.
Olgamir Amância (DEX), Scarlett Rocha (DCE), Boaventura de Sousa Santos
e Richard Santos (DEX) na conferência. Foto: Beto Monteiro
e Richard Santos (DEX) na conferência. Foto: Beto Monteiro
Como resultado desse movimento, o que se vê é a descapitalização das
universidades, para impedir que formem pessoas diversas com pensamento
crítico. O próximo estágio, segundo o raciocínio de Boaventura de Sousa
Santos, seria a privatização.
A decana do DEX destacou a importância de debater a resistência da
universidade pública federal diante de um cenário de redução de verba
para as instituições de ensino superior.
O decanato articula atualmente, junto a Boaventura de Sousa Santos e a
outras instituições, a criação do Programa Intercultural de Extensão,
para intensificar ainda mais a chegada da Universidade a diferentes
setores da sociedade, tendo em vista o fortalecimento acadêmico e o
avanço da educação à comunidade.
Boaventura de Sousa Santos, Márcia Abrahão, José Geraldo de Sousa e Olgamir Amancia
em reunião sobre Programa Intercultural de Extensão, no Salão de Atos. Foto: Amália Gonçalves
em reunião sobre Programa Intercultural de Extensão, no Salão de Atos. Foto: Amália Gonçalves
“Esse momento é importante para as universidades se organizarem”,
observou, fazendo referência à ameaça de privatização e ao sufocamento
imposto pelo teto orçamentário.
Na tarde desta segunda-feira (6), a reitora recebeu o sociólogo
português no Salão de Atos da Reitoria, para aprofundar as
possibilidades de atuação da Universidade de Brasília no desenvolvimento
do Programa Intercultural de Extensão.
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